Por Reinaldo Azevedo
Escrevi
na segunda-feira um texto afirmando que os petistas são tão fabulosos que conseguem mentir
quando dizem "sim" e quando dizem "não" a uma mesma pergunta. A que me referia?
À tal influência do "mensalão" nas eleições. Um sedizente intelectual, esbirro
da legenda (embora se finja de independente), concedeu uma entrevista declarando
a irrelevância do escândalo. Adotando o mesmo juízo de Lula, só que com
linguagem mais sofisticada e hipócrita, assegurou que os eleitores estão
preocupados com outros assuntos. No mesmo dia, Gilberto Carvalho,
secretário-geral da Presidência, sustentou o contrário: o julgamento do
Supremo, segundo ele, prejudica, sim, o PT. Um disse "não" porque não quer o
mensalão como uma marca do PT; o outro diz "sim" porque quer que outros
acreditem na fantasia de que tudo não passa de uma tentativa de golpe contra o
partido.
Muito
bem! Divulgadas as primeiras pesquisas sobre o segundo turno em São Paulo, a
turma do "sim" e a do "não" se uniram para sustentar uma terceira versão, ainda
mais vigarista do que as outras duas. Como Fernando Haddad larga na frente
tanto no Datafolha como no Ibope, asseguram que o mensalão interfere, sim, na
disputa, MAS A FAVOR!!! Para os petistas, a eventual eleição de Fernando Haddad
em São Paulo seria uma espécie de "resposta" dos eleitores ao Supremo Tribunal
Federal, à "mídia" (que é como eles chamam a imprensa) e às oposições.
Não é
do balacobaco? Quando Haddad estava numa situação apertada, Lula, por exemplo,
dizia que o povão queria mesmo era saber se o Palmeiras passaria para a segunda
divisão. Agora que aparece numa situação confortável, tanto ele como Zé Dirceu
inverteram a lógica anterior: não só aquele mesmo povo estaria ligado no
julgamento do mensalão como teria decidido fazer o que o STF não fez: absolver
os mensaleiros. É asqueroso! E mentiroso também.
Este
blog e o tempo
Você quer ver, leitor amigo, como é bom pensar com fundamento e princípio? Entre outras coisas, serve para que a gente não passe vergonha e possa responder por aquilo que escreveu - ou, então, o articulista tem de explicar por que mudou de ideia. Esta página tem milhares de leitores, em número, felizmente, crescente, porque, acho eu, o internauta encontra aqui coerência. Chegou a hora de LEMBRAR O PRIMEIRO ARTIGO QUE ESCREVI NA VEJA, publicado no dia 6 de setembro de 2006. Vale a pena reler um trecho (em azul):
Você quer ver, leitor amigo, como é bom pensar com fundamento e princípio? Entre outras coisas, serve para que a gente não passe vergonha e possa responder por aquilo que escreveu - ou, então, o articulista tem de explicar por que mudou de ideia. Esta página tem milhares de leitores, em número, felizmente, crescente, porque, acho eu, o internauta encontra aqui coerência. Chegou a hora de LEMBRAR O PRIMEIRO ARTIGO QUE ESCREVI NA VEJA, publicado no dia 6 de setembro de 2006. Vale a pena reler um trecho (em azul):
Um novo
refrão anda "nas cabeças, anda nas bocas", poderia dizer o lulista Chico
Buarque: a possível reeleição do presidente absolve os petistas de
todos os seus crimes. As urnas fariam pelo PT o que o ditador soviético Josef
Stalin fez por si mesmo: apagar a história. É um embuste. A vantagem
do presidente se deve à economia, à inépcia e inapetência das oposições, às
políticas assistencialistas, tornadas uma eficiente máquina eleitoral, e à ignorância,
agora a serviço do tal "outro mundo possível". O povo é, sim, um tipinho
suspeito, mas não vota para livrar a cara dos marcolas da ideologia.
O
voto do ignorante vale menos? Não. Mas também não vale mais. Nem muda a
natureza das instituições. E não absolve ninguém, tarefa que continuará a ser
da Justiça. A vacina
contra o autoritarismo virótico de quem pretende cair nos braços do povo para
ser absolvido de seus crimes está em Origens do Totalitarismo, da pensadora
judia-alemã Hannah Arendt. Aprende-se ali que não devemos permitir que os
inimigos da democracia cheguem ao poder, negando-nos, uma vez lá, em nome dos
seus princípios, as liberdades que lhes facultamos em nome dos nossos.
A
tese da absolvição serve ao propósito de pautar a imprensa com uma agenda
virtuosa. O programa de governo do PT prevê, diga-se, o incentivo oficial à
"mídia independente". Em lulês, significa financiar, com o dinheiro dos
desdentados, a sabujice disfarçada de jornalismo.
(…)
(…)
Volto
a outubro de 2012
Não sei se Haddad será eleito. Como é óbvio, torço para que não seja. Já expus os motivos aqui dezenas de vezes. Caso isso aconteça, no entanto, nem está provada a irrelevância do mensalão (e já digo por quê) nem está evidenciada, claro!, a suposta resposta do "povo" àqueles que, seguindo a Constituição e as leis, condenaram os criminosos petistas que promoveram o mensalão.
Não sei se Haddad será eleito. Como é óbvio, torço para que não seja. Já expus os motivos aqui dezenas de vezes. Caso isso aconteça, no entanto, nem está provada a irrelevância do mensalão (e já digo por quê) nem está evidenciada, claro!, a suposta resposta do "povo" àqueles que, seguindo a Constituição e as leis, condenaram os criminosos petistas que promoveram o mensalão.
O que
explica a derrota vexaminosa do PT em Recife e Belo Horizonte, por exemplo? Ou
o fato de o PT ter disputado 17 capitais com cabeça de chapa e ter vencido no
primeiro turno em apenas uma? Os motivos principais, sabem os sensatos, estão
ligados à política regional, até porque o tema "mensalão" quase não foi
mencionado naqueles confrontos. Se a eventual eleição de Haddad em São Paulo
significar uma resposta do povo ao Supremo e às oposições, dever-se-á concluir,
então, que a derrota do PT na capital de Pernambuco e na de Minas terá
significado uma resposta aos mensaleiros? Ou será que os paulistanos teriam
especial admiração por delinquentes políticos?
Um dia
antes da eleição, escrevi um artigo aqui afirmando que as urnas iriam demonstrar o que, de resto, já se
sabia: Lula não é Deus, e não basta ele mandar para o povo obedecer. Não foi
obediente em Recife, em Belo Horizonte e em muitos outros lugares. Resistiu, é
bom notar, mesmo na capital paulista. O desempenho de Haddad no primeiro turno
não é algo de que o petismo deva se orgulhar, não é?
Mas
influi ou não influi?
Mas, afinal, o mensalão influi ou não no resultado das urnas? O Datafolha tentou medir o impacto do escândalo no desempenho de Haddad em São Paulo. Concluiu que 10% dos paulistanos deixavam de votar no petista por causa disso. Para ser sincero, tendo a desconfiar enormemente dessas medições. Parece-me uma tentativa de quantificar o imponderável. Acho, no fim das contas, a pergunta errada.
Mas, afinal, o mensalão influi ou não no resultado das urnas? O Datafolha tentou medir o impacto do escândalo no desempenho de Haddad em São Paulo. Concluiu que 10% dos paulistanos deixavam de votar no petista por causa disso. Para ser sincero, tendo a desconfiar enormemente dessas medições. Parece-me uma tentativa de quantificar o imponderável. Acho, no fim das contas, a pergunta errada.
INTERFERE
NA ELEIÇÃO AQUILO QUE OS CONCORRENTES NUMA DISPUTA CONSEGUEM TORNAR TEMAS
INFLUENTES, AQUILO QUE PASSA PELO PROCESSO DE POLITIZAÇÃO. Em 2006 e 2010, temerosas da popularidade
de Lula, as oposições deixaram o mensalão de lado, além de terem ignorado
outras mazelas do governo. Logo, não teve peso nenhum!
Eu
estou entre aqueles que acreditam que a política é um bom lugar para fazer…
política! Isso a que se chamou "mensalão" é mais do que uma simples união de
larápios para roubar os cofres públicos. É um método de conquista do estado. É
possível tornar isso compreensível ao eleitor não especialista? Não só acho que
é como considero necessário fazê-lo. Mais ainda: trata-se de uma obrigação
daqueles que se opõem ao PT. É claro que uma campanha não deve se estruturar
apenas em torno desse tema. A biografia de homem público de Haddad, por
exemplo, está para ser desvendada. Até agora, o eleitor só teve acesso à versão
edulcorada pelo petismo. Falta submetê-la aos fatos. Suas escolhas à frente do
Ministério da Educação têm de ser debatidas e esmiuçadas.
Concluindo
É o eleitor, soberano, quem decide se o mensalão interfere ou não no seu voto. Cumpre a quem enfrenta o PT oferecer a sua narrativa daqueles eventos. Qualquer que seja, no entanto, a decisão do eleitorado, uma coisa é certa: ele pode condenar ou absolver os políticos, no máximo, com o seu voto. Já o julgamento do STF, esse não há urna que mude. José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares são corruptores, e Fernando Haddad é expressão do partido que tentou, segundo vários ministros do STF, dar um golpe nas instituições.
É o eleitor, soberano, quem decide se o mensalão interfere ou não no seu voto. Cumpre a quem enfrenta o PT oferecer a sua narrativa daqueles eventos. Qualquer que seja, no entanto, a decisão do eleitorado, uma coisa é certa: ele pode condenar ou absolver os políticos, no máximo, com o seu voto. Já o julgamento do STF, esse não há urna que mude. José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares são corruptores, e Fernando Haddad é expressão do partido que tentou, segundo vários ministros do STF, dar um golpe nas instituições.
É uma
obrigação política e moral da oposição deixar isso claro.
E
arremato: sustentar que a eventual vitória do PT significaria a absolvição dos
mensaleiros corresponde a afirmar que o povo também é corrupto.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Um comentário:
Acho que a "absolvição" dos mensaleiros em São Paulo, já se deu nas duas eleições passadas, quando o povo paulista já os reelegeu, na maior cara de pau e irresponsabilidade inimagináveis.
Postar um comentário